quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

O Rio Xingu e as "algas de março"
Luiz Pena
Na manhã da quarta-feira de Cinzas, mês de fevereiro, saí com minha esposa em busca de terra queimada para fazer uma pequena horta. Saímos pela beira do rio em direção a um barracão velho de uma serraria. Entre conversa e outra sobre o que víamos lembrávamo-nos de nossa infância nas beiradas do Xingu.

De tudo, retiramos lições interessantes! E que me motivou a escrever sobre isso. Depois do velho barracão, em meio à paisagem natural estava a “Praia do Urubu”, solitária e linda a abraçar os moirões de um velho trapiche que ainda resistiam à passagem do tempo! O destaque do cenário: em cada moirão um pássaro repousava. Bem-te-vis, gaivotas, quero-queros e tantos outros que faziam a alegria daquela manhã. No conjunto daquela paisagem linda que me enchia os olhos estava o estonteante Rio Xingu! E, curiosamente, percebi que naquele momento se encontrava manso! Sem banheiro algum; veio então em minha mente uma pergunta: Será que era para este rio estar tão manso assim? Mesmo assim, me conformei.

A mãe natureza, por mais que às vezes se revolte, cá pra nós ainda não chegou essa hora! Nem há de chegar... A água do rio estava tão calma, que em certos lugares dava pra ver a areia no fundo, isso, quando a alga verde deixava. Aí foi que compreendi o que meu compadre que é pescador havia me dito. – “Meu compadre tem tanta alga verde no rio que não dá para pescar direito”. Naquele instante fiz uma rápida reflexão: meu compadre tem razão, o Rio Xingu está cheio de alga verde em toda sua extensão.
Outro dia fazendo hidroginástica na “Praia do Leme”, considerada como cartão postal da cidade de Souzel se percebeu que lá também a água estava cheia de algas verdes. Que pena! O Rio Xingu, já foi mais belo, mais cheio principalmente em fevereiro, pois a água começa a encher por essas bandas, no mês de janeiro. Acredita-se então que isso seja efeito do represamento da água para funcionamento das turbinas da UHEa Belo Monte em que a água não tenha sido suficiente para encher o rio como em outros tempos. Com isso, a água não cresce e fica cheia de algas verde. Nesta época do ano, em outros tempos, tanto a Praia do Urubu, quanto a Praia do Leme já estavam quase todas submersas e o rio apresentava uma fartura de peixes.


Agora, pescar, principalmente o famoso Caratinga, peixe símbolo da cidade de Souzel, ficou mais difícil. Nosso medo é que a água nunca mais possa crescer, como antes e que o rio vá diminuindo de forma que ao longo do tempo ele possa diminuir igualmente aconteceu com o rio Tietê em São Paulo, que se encontra abaixo do nível e vem ocasionando a maior crise hídrica de todos os tempos!!! É, meu compadre!! Esse é o preço do progresso!! Será que vamos ter que conviver com essas "algas de março" que parece querer fechar o nosso verão!??